quinta-feira, 23 de maio de 2013

A função terapêutica do perdão

Nunca conheci ninguém que em algum momento não tenha sido ofendido ou tenha ofendido alguém, seja de modo intencional ou não. Assim, penso que jamais haveria relacionamento algum, se toda ofensa causasse rompimento de laços.
Qualquer vínculo relacional tem em sua base três ingredientes: compreensão, suporte mútuo, e acima de tudo, perdão. O outro erra, mas é perdoado porque há a percepção da falibilidade humana. Desta forma, o perdão é um assunto que devemos dominar completamente se quisermos ser emocionalmente saudáveis e nos relacionar de maneira equilibrada.
Porém, o perdão ainda é uma grande incógnita para muitos, assim vamos tentar entende-lo um pouco melhor.
Procurando por uma definição para iniciar o assunto encontrei uma interessante de Rick Warren. Ele diz que perdoar é desligar-se do passado. Desligar-se é o mesmo que não estar preso, romper com os vínculos, não ter dependência alguma. Gostei dessa definição porque ela revela que o perdão trás um componente importante para aquele que foi ofendido: o sentimento de liberdade.
Ver o perdão dessa forma é importante para nos auxiliar a sermos capazes de perdoar com naturalidade em nosso dia-a-dia, já que todos desejamos ser livres do passado e seguir com a nossa vida, rompendo com sentimentos desagradáveis.
Um segundo ponto que nos é muito útil quando imbuídos da decisão de perdoar é a percepção de que o primeiro beneficiado pelo perdão é aquele que o doa. Esse aspecto em particular, tira o perdão da condição de só poder ser concedido por quem é “muito bom”. Um erro fatal, já que nenhum de nós é “tão bom assim”. Então, conceder ao perdão a característica de benefício próprio, o humaniza, colocando-o numa condição de poder ser praticado por qualquer pessoa que queira.
Facilita, não é? E precisamos muito de argumentos que nos ajudem a praticar o perdão. Até porque o perdão já é uma questão de saúde pública, em função da enorme gama de doença que a sua prática evitaria. Estudos tem comprovado que a falta de perdão desencadeia várias doenças emocionais e físicas como depressão, dores musculares, reações alérgicas, enxaquecas, hipertensão e até câncer.
O terceiro ponto importante para a prática do perdão é saber que diante de qualquer situação de ofensa temos somente duas saídas: a vingança ou a solução. A vingança, ou retaliação, é a tentativa de apaziguar os nossos sentimentos através de atitudes destrutivas para com o ofensor. Isto torna-nos amargurados, pois estamos sempre voltando ao fato passado e re-sentindo o que já foi vivido. Com esta aparente solução a única coisa que conseguimos é nos tornar prisioneiros do outro, ainda que tudo o que desejamos seja justamente ser livres dele. Vale à pena?
Por outro lado, como já dissemos, o perdão nos liberta do outro, pois podemos e devemos fazê-lo independente dele. Não importa a reação que o outro terá, porque em primeiro lugar o perdão beneficia aquele que o oferece. Através do perdão somos capazes de enterrar o passado, e seguir livremente com a nossa vida, com as nossas emoções equilibradas e saudáveis.
Só há, realmente, uma condição para que ocorram mudanças significativas e positivas em nosso estilo de vida. Essa condição perpassa pela mudança de atitude em relação às ofensas: escolher perdoar as pessoas, independente do comportamento que elas tiverem depois disso.
Essa condição também foi enfatiza por Jesus ao nos ensinar o princípio: "perdoa-nos os nossos pecados, como também perdoamos a quem nos tem ofendido" (Mt 6:12). Creio que Jesus deixou esse ensinamento para nos lembrar que devemos dar perdão porque também precisamos receber perdão. Em outras palavras, Ele nos ensinou a humildade. Uma humildade que nos faz livres!
Sejamos livres!