O meu objetivo com este texto é fazer uma reflexão sobre a
influência do relacionamento mãe/filha, que em psicologia recebe o nome de
complexo materno.
O interesse neste assunto se deve ao fato do complexo
materno, tanto o positivo quanto o negativo, exercer grande influência sobre a
psique e desenvolvimento da menina e ter um papel decisivo no modo como ela se
relacionará consigo mesma e com os outros.
Ser uma mãe “suficientemente boa” implica em estar em
sintonia com as necessidades biológicas e psicológicas que a filha tem. Algumas
mães são capazes disso, outras, não. Entretanto todo bebê é completamente
dependente do amor, cuidado e atenção de sua mãe.
Nas palavras de Jung, “A
desarmonia latente entre os pais, uma preocupação secreta, desejos secretos e
reprimidos, tudo isso produz na criança um estado emocional, com sinais
perfeitamente reconhecíveis, que devagar, mas segura e inconscientemente vai
penetrando na psique dela, levando às mesmas atitudes e, portanto, às mesmas
reações aos estímulos do meio ambiente”.
O complexo materno está presente em todos as pessoas, e se
relaciona com a necessidade de carinho, proteção e ligação. Se a relação com a
mãe for satisfatória e atender estas necessidades, a filha terá sempre a
sensação de que a vida é boa, de que é amada e protegida. O viver dessa mulher será marcado por uma
alegria consigo mesma, com o corpo, com a comida, com a sexualidade... Com
tudo!
Essa será uma mulher que saberá compartilhar da intimidade
corporal e psíquica com outras pessoas, sendo fácil desenvolver a plenitude de
amor, cuidado e compreensão com os outros. Essa mulher terá um desenvolvimento
emocional saudável.
Portanto, o complexo materno positivo resultará em pessoas
que se caracterizam pela facilidade de relacionamento com o outro. Em geral,
essas pessoas se comunicam muito bem, são amorosas, generosas e amigáveis, e
bem vistas pelos outros.
Já no caso em que a relação com a mãe não seja boa, o
complexo materno será negativo e gerará mulheres que viverão com o sentimento
de que são desconectados e sem raízes, marcadas pela crença de que as
conquistas importantes só são conseguidas através da luta com o “mundo”. No
complexo materno negativo encontra-se o sentimento de solidão, de inadequação e
de precisar sempre se sobressair para ter o respeito alheio.
É muito comum que pessoas com experiência de complexo
materno negativo sejam marcadas por uma desconfiança exagerada nos outros e por
nunca esperarem fidelidade de ninguém. Em conexão com isso, há um medo
existencial de ser rejeitada que faz com que elas criem barreiras que impedem
os outros de se aproximarem, provocando a própria solidão.
Como fenômeno patológico este tipo de mulher se torna uma
companheira desagradável, exigente, que pouco satisfaz ao companheiro de
qualquer tipo de relacionamento, especialmente outras mulheres que ocupem papel
de autoridade em sua vida, por serem fontes de grandes expectativas e,
consequentemente, decepções.
É muito comum que mulheres com complexo materno negativo não
se sintam amadas, por isso estão sempre exigindo muito do parceiro. Além disso,
têm problemas com a autoestima, desânimo, transtornos alimentares, tendência à
depressão, angústia à separação e disposição ao sacrifício exagerado e
desnecessário nas relações.
Apesar de todo o exposto acima, é importante destacar que
complexo não é transtorno. Não é uma doença que precisa de tratamento. É apenas
um conjunto de impulsos cuja força está no fato de agir no inconsciente. É
necessário torna-lo consciente para que ele se “dissolva” e deixe de ser
“perturbador”. Embora um complexo nunca possa ser extinto, ele pode se
transformar na medida em que é absorvido e assimilado pelo consciente.
No entanto, para vencê-lo, apenas trazer à consciência os
efeitos positivos ou negativos não será suficiente. É preciso observar os
comportamentos e atitudes inadequadas, aceitar a figura materna e perdoá-la, a
fim de transformar interiormente a relação mãe e filha.
Nesta perspectiva, é de extrema importância que a mulher
reconheça os padrões que influenciam a sua vida e os efeitos que isso pode
causar. Sair do estado de inconsciência proporcionará um conhecimento de si
mesma, que poderá fazê-la encontrar maneiras de modificar este modelo de
relação com a figura materna que foi introjetado pela psique.
Se o relacionamento com a mãe gerou sentimentos que se
desenvolveram de forma inadequada, a solução reside no estabelecimento de um
novo relacionamento com alguém que possa assumir com propriedade o papel de
mãe.
E quem pode fazê-lo melhor do que aquele que a formou, a ama
e está pronto para ser o supridor de todas as suas necessidades? Deus certamente será a solução. Ele quer ser
aceito como mãe e cuidar de seus filhos, conforme está escrito em Salmos 2:7b “Ele me disse: Você é meu Filho! Hoje te
gerei! Hoje é o dia da sua coroação. Hoje dou a você toda a sua glória!”.
Ao se relacionar de forma íntima com Deus a mulher aprenderá
a receber amor incondicional, a expor seus desejos, a ter segurança e elevar a
autoestima, valorizando-se e tornando-se capaz de estabelecer limites no
relacionamento com os outros.
Essa mulher aprenderá a lidar com a ansiedade e o medo de
ser rejeitada, descobrindo que tem valor e que existe com um propósito.